Verbo amar na primeira pessoa do singular

Tento conter minhas palavras. Prendê-las dentro de meu peito, arranhando minha garganta. Sinto náuseas, como se meu sangue estivesse seco dentro de mim.

Oh, belas mentiras essas que conto quando seus ouvidos estão perto de minha boca. Sorrio, canto e finjo. Prendo dentro de mim todas as falas que deveriam ser ditas, prendo as lágrimas e me acumulo em tristezas.

Os seus braços estendidos, seus dentes, seu cheiro. Venham a mim como quando a vida era rósea. Preciso estancar as esperanças, mas são elas que me mantém viva.

Finjo ser uma pessoa melhor; com olhos, boca e ouvidos. Mas sou apenas uma serpente; arrasto-me aos seus pés. Estou no chão que você pisa.

Em casa tudo parece igual. Não! O que é isso? As cores sumiram quando você foi embora. Preto, branco e vermelho. Meu sangue rubro está em todo o lugar. Respiro você, te sinto, te toco. E de repente- quando tudo cai- posso ver-me entre escombros, sem forças para fugir dessa parede que pende antes de cair; sobre mim.

Sou visceral, vadia, sofrida. Sou o sangue embaixo de minhas unhas, a palavra escrita a agulhas sobre minha pele. Mas não sou você, me fiz apenas sua.

Risadas! Risadas! Pare de rir perto de mim. Revira-me o estômago a sua felicidade falsa. Ninguém sou para julgar as suas escolhas, mas- POR FAVOR!- as revise antes que eu morra de sofrimento.

Pior que a rejeição é ver-te escolhendo o caminho mais rápido. Chegará a morte, minha querida, a completa anulação.

De que vale uma vida pelas bordas?
De que vale um amor sem chamas?
De que vale nunca sofrer se também nunca será feliz?

De nada, suponho.