5.14.2008

4.19.2007

Insônia cria.

O tempo vai passar. Ele sempre passa. Já as dores e a ausência vão ficar para sempre aqui. Encravadas no meu coração, na minha alma e na minha loucura.
Meu cabelos estão sujos da sujeira acumulada em um dia entregue a falta de esperança.
Estava olhando para dentro dos meus olhos. Naquela parte a qual alguns chamam de janela da alma. Se for mesmo ela o olho mágico pelo qual eu posso ver dentro; vi que não há nada além da dor e da ausência.
A dor pela ausência de mim.
Vendo a triste falta de Natália Pinheiro percebi que não há nada a ser feito. Esse é apenas o fim da caminhada que insisti em fazer, mesmo sabendo que ninguém voltava inteiro dela.
Essa caminhada em que, a cada curva, eu deixava um pedaço de mim. Minha felicidade, minha sanidade, minha vontade, meu amor.
Tudo o que existia de bom em mim foi perdido. Agora não há mais nada. Não tenho mais vida. Sou apenas a repetição dos mesmos erros e abandonos.
Cada palavra que eu amentei hoje é pouco. Minha dor precisa de todo um novo vocabulário.
Se tivevesse forças talvez criasse um dicionário sem palavras. Cheio de espaços em branco e de vez em quando algumas páginas cobertas de gritos que nunca cheguei a gritar.
Assim, através da minha nova língua, diria à todos que não preciso de ajuda.
Tudo o que preciso é de um canto só meu na sala de espera de um hospital desativado. Para ter sempre comigo à esperança de que daqui há dois, três, cinqüenta minutos eu receberei a ajuda de que preciso; mas sem nunca ter a dor de olhar nos olhos do meu suposto salvador e ver que- como todos os outros- ele também não se importa.


[Tirado do meu outro blog.]

4.09.2007

-Férias.


Tudo perdeu o sentido. Assim, de repente, eu me percebi cansada. Tanto nos ossos e articulações quanto na alma- ou o que quer que seja que fique dentro.
Chegou a minha hora de desistir. Não quero mais chorar, nem reclamar, nem gritar e acordar o bairro inteiro. Mas também não quero mais sorrir, nem dar risada, nem contar piadas.
A merda é exatamente essa. Não importa o que eu esteja fazendo, estou sempre do mesmo jeito por dentro.
E mesmo se a culpa for minha, não tem nada que eu possa fazer. Já esta tão encravado dentro de mim que não tem como separar: é uma coisa só.
A solidão sou eu. Não importa se realmente sozinha ou se com pessoas ao redor.
O que mudou foi que hoje já não consigo mais camuflar a realidade.
Hoje as coisas estão claras e óbvias demais e mesmo de olhos fechados, a claridade ultrapassa as pálpebras.
Cansada de ser sozinha.
Sozinha por estar cansada.
Fechado.

4.03.2007

-Sobre a consulta, de novo.

-Eu queria, naquela época, que todo mundo soubesse exatamente o que estava passando dentro da minha cabeça. Tinha comigo uma certeza que não deixava ninguém questionar: grite o mais alto que puder que quando sua voz acabar o motivo terá acabado também. A maior besteira de todas, mas eu acreditava piamente nisso. Sabe como é?
-Mentia para si mesma?
-Sim, mas isso eu sempre faço. A diferença é que naquele tempo eu inteira acreditava. Acho que foi a única vez que eu consegui unificar todas as diferentes visões de um problema em uma única mentira.
-Hum, sei.
-Assim eu passava o tempo todo contando sobre aquele historia. Claro que depois de um tempo ninguém mais agüentava me ouvir contar.
-E o que você fez? Parou de contar?
-Não, inventei outros ouvintes. Em poucos dias todas as pessoas que me conheciam sabiam sobre a minha dor. Então passei a conhecer outras pessoas. Ate que não havia mais ninguém disposto a ouvir minha ladainha. O que nos faz chegar a minha brilhante solução, que se transformou em problema é por isso estou aqui de novo.
-E qual é a solução?
-Conto para ninguém. Passo todos os dias falando com o nada. Nunca acharei ouvinte melhor.
-E o problema?
-Ele começou a responder.

4.01.2007

-Sobre a consulta.

Além das linhas, gestos e olhares. Dentro daquela caixa esquecida no canto do quarto, coberta por quadros que nunca foram pendurados.
Às vezes seguro as lágrimas e elas secam entre o globo ocular e os cílios inferiores. E às vezes deixo elas serem e cumprirem seu porquê.
Tenho vontade de gritar e sempre deixo o grito morrer no meio da minha garganta. Não posso- mais uma vez- assistir meu desespero perdendo-se mudo.
Tento imitar aquela cena daquele filme, mas nunca consigo. Não tenho a polidez, nem a calma. Porém acabo-me nas mesmas vontades.
Temo um dia mergulhar nos rios que secaram e me afogar nessa ilusão.
Então, te digo: Guardo-as para ter companhia nas noites mais frias.

-Conte-me sobre as mágoas.

3.28.2007

(In)sensível.

Eu fiquei tentando entrar. Ficar bem pequenina e mesmo assim ter que me encolher. Minha boca ficou fechada e todas as palavras juntas forçando os meus dentes- cerrados.
Troquei as letras, coloquei os pés pelas mãos, falei muita besteira.
Arranhei, puxei os cabelos, cuspi sangue.
E nada disso pareceu ser suficiente. Eu queria mais, muito mais.
Chegar ate o limite, ir um pouco alem e explodir em uma nuvem de fumaça.
Ficava repetindo sempre as mesmas palavras. Mesmos gestos. A mesma merda toda.
E estava na cara, a menos de um palmo do meu nariz, que nada daquilo teria resultado. Que eu teria que voltar ao inicio- de outra corrida.
Como é que é mesmo? O que: sentir?
Decepção, sofrimento, desamor, solidão.
Queimado, cortado, batido, arranhado.
Nada, querida, NA-DA.
Por mais que eu tentasse sentir, mas indiferente me tornava.

E agora pouco, depois de ler aquele trecho daquele livro e não me emocionar, pulei da janela.

NADA, PORRA, NADA.

3.27.2007

-Quer?

Afundar meu segredos nas dúvidas que enchem o teu copo.
Dentro dos teus olhos, enxergar além do preto de sua íris o amor escondido por camados de dor.
Entre o vai-e-vem de seu quadril enxergar um quê de solidão.
Suas mãos nervosas percorrendo o teu corpo e as minhas paradas. Querendo ser tuas.
Ser tuas palavras: morar na tua alma, coração e boca.
Ler teus livros e tentar desvendar as suas confusões.
E no final- antes da primeira badalada do nosso dia- esquecer o que conheço por amor e criar todo um novo conceito: só meu e teu.