12.05.2006

Parasitas*

Perdia-se dentro de seu quarto de quatro paredes.
Com a lâmina fina apertada em sua mão esquerda, fazia cortes profundos em seu braço. Era essa sua tola esperança de fazer sair de si a tristeza e a amargura.
Pela janela podia ver as lâmpadas amarelas da rua e a chuva que caia sem cessar. Fazia uma noite perfeita.
O que melhor podia fazer: castigar. Punia-se por sentir-se daquela maneira.
Sua solidão era amarga e densa, enquanto sua tristeza era apenas: tristeza.
Já tentara de tudo para fazer a dor que esmagava suas entranhas sumir. Porém ela continuava ali; cada vez mais forte, cada vez maior.
Era um monstro que trazia dentro de si. Alimentava-se de sua fraqueza e- de uma maneira estranha- a cada lágrima que derramava sentia-o crescer um pouco.
Agora suas paredes brancas tingiam-se do vermelho de seu sangue. E ela se tingia da brancura das paredes.
Queimara-se com seu cigarro, mas a dor já não era suficiente. Mesmo ela, que fora sua companheira por tanto tempo, agora se mostrava ineficaz.
Todas as saídas que encontrava eram passageiras, já a solidão e a tristeza eram permanentes. Estavam grudadas nela como plantas parasitas que grudam em uma árvore e tiram sua energia, até que a árvore- de fraqueza ou de cansaço- morra.

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